Saturday, January 12, 2013

Diversidade: você está pronto pra isso?

Meu amigo Wolverine postou recentemente sobre preconceito. Tema complicado. Eu sempre digo que preconceito é algo que todo mundo tem, mas poucos conseguem admitir. E nem acho que o principal problema no Brasil seja racial. Na minha opinião, classes sociais afetam mais a forma como as pessoas tratam umas às outras do que cor, religião ou raça. Mas enquanto diversidade é moda, especialmente no ambiente corporativo, eu gosto de abordar um outro tipo de preconceito: de estilos, valores, gostos. Acho muito curioso que a publicidade, a indústria do entretenimento e a mídia de forma geral enalteçam pessoas modernas e descoladas como sinônimo de vanguarda. De fato, eu acho mesmo que pessoas criativas, expansivas, abertas -- e nem por isso menos preconceituosas -- tendem a ter estilos mais arrojados. Agora, tente sair por aí com tatuagens à mostra, cabelo vermelho, roupinhas mais desencanadas e tal. Acredite: você ainda encontrará alguém que lhe medirá da cabeça aos pés achando que, no mínimo, você fuma maconha. Sem falar que é provável que lhe tomem por lésbica. E se seu namorado for igualmente "maluquinho", há 70% de chance de realmente acharem que você usa drogas pesadas diariamente. 

E como neste mundo nós somos aquilo que as pessoas acham que nós somos -- ou seja, aparência é o que mais importa -- você simplesmente precisa lidar com isso, ainda que você seja straight edge e nem fume, beba, use drogas, etc. Então tá. Você encontra uma turma onde todo mundo tem a mesma aparência que você. Você pensa que ser aceita será tarefa fácil. Engana-se. Metade daquelas pessoas, só porque você tem um emprego legal, uma casa bacana e gosta da sua vida, acha que você é patricinha metida à maluca. Daí você descobre que o preconceito vem de tudo aquilo que está em você e que você projeta nos outros. São, bem lá no fundo, suas frustrações espelhadas justamente naquele que lhe impõe o novo, que lhe expande as possibilidades e lhe faz refutar tudo que até então você tomava como regra. Daí, ao mesmo tempo em que você lê sobre diversidade, precisa tomar cuidado com as comunidades que tem no Orkut porque pode ser que você não consiga emprego só porque postou uma foto do seu piercing e é fã de bandas esquisitas. Mas ainda que o diretor de RH não se dê ao trabalho de checar sua "aparência real", você passa a ter dois guarda-roupas: aquele em que você se sente uma boba de segunda a sexta e o outro, com aquilo que você realmente gosta de usar. Porque mesmo que você trabalhe num lugar "cool", tipo Folha de São Paulo, eventualmente precisará do figurino "old fashion". 

E até as pessoas mais underground têm limites. Se você ousar ultrapassar os limites delas terá problemas para "pertencer". Basta ver que vários dos marmanjos tatuados e "doidos" que você nas baladas mais disputadas da cidade têm pavor de homossexuais. Talvez porque eles ainda tenham dúvidas sobre sua própria masculinidade? Ou será que o fato de serem tão alternativos os fazem ainda mais machistas e conservadores? E os preconceitos não páram aí. Você já viu alguém com mais de 40 anos ser chamado para uma entrevista de emprego com a mesma frequência de alguém com 25? Converse com alguns dos mais bem-sucedidos executivos e preste atenção em suas esposas. Elas provavelmente se parecem, com suas roupas compradas na Daslu, seus corpos construídos nas melhores academias e nos melhores consultórios de cirurgia plástica, e seus cabelos penteados no W. É mais provável ainda que não trabalhem para estarem disponíveis às mudanças de carreira deles. E quando elas arrumam um emprego, eles chamam de "hobby". Mulheres-poodle, como diria uma amiga minha. Mas essas, teoricamente, são as mais bem-aceitas entre as lideranças do País. A lista de "do´s & dont´s" sociais pode ser interminável. Não fale muito alto ou alguém no escritório pode não ir com a sua cara por isso. Naõ seja muito feliz ou alguém na sua turma pode não gostar muito de você ou lhe achar "efusiva" demais. Não seja muito você mesma ou quem tem problemas em se assumir pode fazer questão de propagar fofocas incríveis a seu respeito. Ou seja, no final, a gente está sempre jogando o jogo de um lado ou de outro, tentando sobreviver num mundo onde todo mundo -- sem exceção -- se acha muito normal.